Crítica | Dead Dead Demon's Dededede Destruction, o mais novo trabalho de Inio Asano

Em um país normal, com uma civilização normal, residem duas garotas colegiais que vivem suas vidas da maneira mais tranquila possível, aproveitando cada oportunidade que a vida oferece. Tudo mudou no dia fatídico de 31/08, quando uma nave entranha e misteriosa surgiu em cima do Japão, aterrorizando e despertando a curiosidade da população.

Embora com a presença obscura desses invasores no país, considerados uma espécie de ameaça para a humanidade, a vida continua monótona e trivial. Tudo mudou, ao mesmo tempo em que nada mudou. As pessoas “aprenderam” a coexistir com a presença dessas naves que rodam pelas cidades em busca de não se sabe o que. Notícias são difundias por todas as mídias, pessoas estão antenadas em tudo o que está acontecendo, sobretudo continuam a viver suas vidas da forma que sempre viveram.

O fato é que Inio Asano é um gênio e isso não se pode refutar. Há quem acredite que ele viaja em suas obras, todavia não deixa de apresentar um incrível e complexo trabalho em seu resultado final. Com Dedede (nome utilizado para facilitar a menção do título) não é diferente disso. As obras de Asano possuem, de certa forma, uma segmentação de público. Os meios para esta conclusão estão nas opiniões, que se divergem muito de leitor para leitor. Embora seja comum uma crítica negativa sobre a obra, é normal se ouvir uma crítica ruim a partir de uma obra mal desenvolvida, o que, em muitos dos casos, não é válido para as obras de Asano, que aborda diversas questões com um plot interessante e que foge do paradigma de um roteiro engessado e estático.
Em Dedede, Asano explana sobre muitas categorias importantes para a sociedade e o próprio mundo da vida real. O objetivo deste texto é trazer a tona algumas dessas questões, consideradas as essenciais para se compreender o teor de importância que este mangá possui.

As relações políticas:

Quando se é tida a noção de importância e das proporções negativas que a presença desses invasores poderiam causar para a civilização, muitos questionam a administração e a pressionam contra a parede. Muitas pessoas foram mortas por essas naves e muitos estragos ocorreram. Aqueles que não haviam sido mortos escaparam gravemente feridos. O principal problema estava nas opiniões e decisões. Enquanto o poder político preocupava-se em cuidar dos desastres da cidade e da reconstrução de prédios e monumentos danificados, a população clamava por ajuda daqueles que sofreram com o atentado.

Alguns meios precisavam ser realizados para que pudessem erradicar com esses invasores, mas para isso muitas coisas eram necessárias. E é justamente neste ponto que temos a primeira aliança apresentada no mangá, sendo ela entre Japão e EUA. É reconhecido o potencial de força Bélica dos EUA e que era necessário a união de ambos para que pudessem construir uma arma para combater os invasores. Claro que nesta parte tecnológica estamos falando do Japão.

Outra questão muito bem abordada é sobre o próprio Japão e sua índole de “bom moço”. Muito se sabe o status do país. Um país calmo e tranquilo, politicamente e socialmente falando. Esta ideia é totalmente quebrada nesta obra, quando um dos personagens menciona que não se pode vencer apenas com gentileza, é necessário tomar uma postura mais séria e enfrentar o problema.

A manipulação da massa:

Se este conceito ainda é novo para você, deixe-me esclarecer. Quando o termo “virar massa de manobra” é comentado, isso quer dizer que de uma determinada forma, a pessoa está sendo ludibriada por interesses que não são dela de fato. São pessoas reunidas em algum lugar sem um propósito em sua real essência. Às vezes estão presentes por causa de um amigo ou de um grupo ao qual quer ser notado.

No mangá, vemos esta realidade em algumas cenas, onde algumas pessoas da ciência conseguiram desenvolver uma arma que lançava raio laser, desintegrando aquilo que ele acertasse. Esta tecnologia foi usada em uma das naves que havia sido expelida da nave mãe. O resultado final foi a desintegração da nave. Isto causou euforia nos japoneses que acompanharam de perto esse momento, que caíram na comemoração, ovacionando o nome do país: JAPÃO, JAPÃO, JAPÃO, JAPÃO.

Neste momento, algumas colegiais que passavam por ali, avistando a balbúrdia, adentraram na festa e começaram a gritar Japão, sem mais nem menos. Uma das pessoas questionaram as garotas do porque da comemoração. Respondendo, ela disse que não fazia ideia, mas como todos estavam gritando e comemorando, devia ser algo bom, logo ela não podia ficar de fora. Essa representatividade traga por Asano foi simplesmente descomunal. Detalhes que, as vezes, passam despercebido, mas que estão presentes ali para a reflexão do leitor.

O poder e a influência da midiatização:

Este é o último ponto que abordaremos neste texto, porém não menos importante. Quando se tem em mente a certeza de que boa parte das cenas são apresentadas num formato jornalístico, com repórteres anunciando os acontecimentos do dia e eventos relacionas com as naves, já se compreende a importância da mídia neste processo. A difusão dessas notícias são veiculadas por alguns meios de comunicação, sendo eles a televisão, o rádio e a internet.

As pessoas estão sempre atentas às notícias, ouvindo e, em muitos dos casos, recebendo-as de forma passiva. Na internet, onde não somente são propagadas as notícias, pessoas também comentam sobre e começam a viver em prol disto, sofrendo com antecipação sobre qual será o futuro do universo, teorias da conspiração são levantadas e por aí vai. O mangá tem um viés muito forte para o lado do jornalismo, algo que não é muito comum. É preciso de um meio para que o que está acontecendo ali seja noticiado para todos os envolvidos, e que meio melhor do que o jornalismo e suas funcionalidades na sociedade.

Por fim, essas foram algumas percepções tiradas através desses capítulos disponíveis na internet. O mangá está em desenvolvimento, possuindo cinco volumes atualmente. E embora exista essa quantidade de encadernados, disponível aqui no Brasil, em scans, temos apena dez capítulos. Aparentemente a equipe que postava os capítulos entrou em hiato, talvez pelo baixo nível de visualizações, mas não se sabe o motivo exato para isso. Quanto ao mangaká, Inio Asano também é responsável pelas icônicas obras Oyasumi Punpun, Solanin e Nijigahara Holograph.

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